Por que as enchentes no Texas que mataram mais de 100 foram tão letais

  • 08/07/2025
(Foto: Reprodução)
A combinação entre a geografia e a falta de recursos teria contribuído para um dos piores desastres naturais que os EUA sofreram no último século. Carro entre destroços de enchentes no estado do Texas, nos Estados Unidos. Getty Images via BBC Mais de 100 mortos, incluindo cerca de 30 meninas e adolescentes. Este é, até o momento, o número de óbitos em decorrência das chuvas torrenciais e enchentes que atingiram o Texas na última sexta-feira, 4 de julho, quando os americanos celebram o Dia da Independência dos Estados Unidos. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp As operações de busca e resgate continuam ao redor do Rio Guadalupe, epicentro da tragédia, à medida que dezenas de pessoas ainda estão desaparecidas. Enquanto algumas famílias se preparam para enterrar seus entes queridos e outras aguardam notícias dos parentes desaparecidos, começam a surgir perguntas sobre como esta tragédia aconteceu e por que deixou tantas vítimas. Nesta reportagem, você vai ver: Qual o papel do terreno do Texas? O alerta foi dado tarde demais? Qual foi a influência dos cortes de Trump? O que se sabe sobre as vítimas? Pelo menos 27 meninas do acampamento cristão Mystic morreram quando as águas da enchente atingiram o local, segundo as autoridades. Getty Images via BBC 1. Qual o papel do terreno? "O Texas, em geral, lidera as mortes por inundações no país, e por uma ampla margem", afirmou Hatim Sharif, professor de engenharia civil e ambiental da Universidade do Texas, em artigo publicado no site de notícias acadêmicas The Conversation. Após revisar dados de 1959 a 2019, o especialista constatou que 1.069 pessoas morreram em tragédias deste tipo no Estado durante esse período, e muitas destas mortes ocorreram na área onde aconteceu a tragédia atual. A área, por onde passa o rio Guadalupe, é conhecida como Flash Flood Alley (algo como "Beco das Enchentes Relâmpago"), escreveu Sharif. Trata-se de uma faixa de terra em forma de meia-lua que se estende desde perto de Dallas, passando por Austin e San Antonio, e depois faz uma curva para oeste em direção à fronteira com o México. O "beco" apresenta condições ideais para inundações repentinas. "As colinas são escarpadas, e a água se move rapidamente quando chove. É também uma área semiárida, com solos que não absorvem muita água, então a água escoa rapidamente, e riachos rasos enchem rapidamente", explicou Sharif. "Quando esses riachos cheios convergem em um rio, podem formar corpos d'água capazes de arrastar casas, carros e, infelizmente, qualquer pessoa em seu caminho", acrescentou. Russ Schumacher, professor de ciências atmosféricas da Universidade Estadual do Colorado, também nos EUA, fez uma declaração semelhante, dizendo ao jornal The New York Times que a região pode sofrer "inundações devastadoras em um piscar de olhos". Sharif lembrou, por sua vez, que, em 1987, outras chuvas no oeste do condado de Kerr fizeram o Rio Guadalupe transbordar rapidamente, desencadeando eventos semelhantes aos dos últimos dias. "Dez adolescentes que estavam sendo retirados de um acampamento morreram naquela enchente", segundo ele. A região do Texas onde ocorreu a tragédia é conhecida como 'Beco das Enchentes Relâmpago'. Getty Images via BBC A geografia também explica por que a região é propensa a chuvas torrenciais. Nesta parte do Texas fica a chamada Escarpa de Balcones, uma fileira de penhascos e colinas íngremes criada por uma falha geológica. Quando o ar quente do Golfo do México sobe sobre a escarpa, ele se condensa e pode desencadear chuvas localizadas, porém intensas, que enchem córregos e rios. À medida que as temperaturas sobem, a atmosfera mais quente retém mais umidade, aumentando o risco de chuvas torrenciais e inundações. Isso explica por que essa tragédia ocorreu em pleno verão. Entre quinta e sexta-feira passada, a área afetada recebeu uma quantidade de chuva equivalente a vários meses, segundo meteorologistas. Em 45 minutos, o Rio Guadalupe subiu oito metros, fazendo com que transbordasse. As inundações neste rio não são incomuns. Pelo menos uma foi registrada a cada década do século 20, de acordo com dados compilados pela Universidade de Houston, também nos EUA. Voltar ao início. 2. O alerta foi dado tarde demais? Time-lapse mostra avanço da água durante enchente no Texas Outra dúvida que começou a circular é se os sistemas de alerta funcionaram e deram tempo suficiente aos moradores e turistas para buscar abrigo. Na quarta-feira, o Departamento de Gestão de Emergências do Texas (TDEM, na sigla em inglês) acionou os recursos estaduais de resposta a emergências devido ao aumento da ameaça de enchentes em partes do oeste e centro do Texas. Na tarde de quinta-feira, o NWS emitiu um alerta de inundação que identificava o condado de Kerr como um local de alto risco de enchentes durante a noite. Na madrugada de sexta-feira, as autoridades regionais emitiram alertas separados para o condado de Kerr, com várias horas de diferença, após constatar que o Rio Guadalupe estava transbordando, informou a BBC. O que aconteceu então? O que deu errado? O governador do Texas, Greg Abbott, atribuiu o fato à magnitude do desastre. "Ninguém esperava uma parede de água de quase nove metros de altura", ele disse. O diretor do TDEM, Nim Kidd, admitiu, por sua vez, que nem todos os moradores e visitantes receberam as mensagens de alerta sobre o que estava por vir. "Há áreas onde não há cobertura de celular, então, não importa quantos sistemas de alerta você assine, você não vai receber uma única mensagem", ele afirmou durante uma entrevista coletiva. Mas deu a entender que os relatórios do NWS não foram precisos, e que isso não ajudou a tomar medidas mais rapidamente. Rob Kelly, juiz do condado de Kerr, reconheceu, no entanto, que o município, um dos mais atingidos pelo desastre, carece de sistemas de alerta contra enchentes. Em declaração à rede CBS, ele disse que há seis anos o condado considerou instalar um sistema de alerta de enchentes ao longo do Rio Guadalupe, semelhante às sirenes que avisam sobre tornados. O que aconteceu então? O sistema nunca foi implementado devido ao seu custo, ele explicou. "Sabemos que há perguntas sendo feitas sobre o sistema de notificação e, embora este não seja o momento para especular, estamos comprometidos em conduzir uma revisão completa dos sistemas atuais", anunciou Dalton Rice, uma das autoridades municipais de Kerryville, no domingo. "No momento oportuno, anunciaremos medidas para nos prepararmos melhor para eventos futuros. Devemos isso àqueles que perderam um ente querido e a todos os membros da nossa comunidade", disse ele durante uma coletiva de imprensa. Voltar ao início. Vídeos em alta no g1 3. Qual foi a influência dos cortes de Trump? Enquanto as buscas continuam para localizar as 40 pessoas desaparecidas após a enchente do Rio Guadalupe, a imprensa americana começou a especular sobre o impacto dos cortes orçamentários e de pessoal implementados pelo governo do presidente Donald Trump na tragédia. O jornal The New York Times revelou que vários escritórios do NWS no Texas careciam de hidrólogos e meteorologistas, que são essenciais para o trabalho de monitoramento e alerta climático. Tom Fahy, diretor da Organização de Funcionários do NWS, disse que os cargos vagos em pelo menos dois escritórios no Texas haviam dobrado desde janeiro, quando Trump retornou à Casa Branca. "A redução de pessoal coloca vidas em risco", afirmou ao jornal, John Sokich, que foi diretor de assuntos legislativos do NWS até janeiro. O ex-funcionário explicou que a falta de pessoal dificultava a coordenação com as autoridades locais em caso de emergência. O governo negou, por sua vez, essas alegações. "As previsões e alertas oportunos e precisos para o Texas neste fim de semana demonstram que o NWS continua totalmente capaz de executar sua missão crucial", declarou o Departamento de Comércio, sob o qual a agência meteorológica opera. No entanto, sob o governo Trump, o NWS, assim como outras agências federais, foi forçado a reduzir sua força de trabalho. Até a primavera, o Serviço Meteorológico havia perdido quase 600 de seus cerca de 4 mil funcionários devido a demissões e aposentadorias implementadas pelo Departamento de Eficiência Governamental, que era liderado pelo bilionário Elon Musk, informou o The New York Times. Voltar ao início. 4. O que se sabe sobre as vítimas? As chuvas torrenciais que atingiram o centro do Texas desde o fim da semana passada já causaram mais de 100 mortes. A atenção da imprensa se concentrou no condado de Kerr, onde ficava o acampamento cristão Mystic, que foi devastado pelas águas da enchente. No centro administrado pela mesma família desde a década de 1930, que se autodenomina um lugar para meninas crescerem espiritualmente em um ambiente cristão saudável, pelo menos 27 meninas e adolescentes teriam morrido, enquanto outras 10 ainda estão desaparecidas. De acordo com as investigações iniciais e testemunhos, as águas da enchente teriam pego as meninas e suas monitoras dormindo. "Todas nós ficamos histéricas e rezamos muito", contou à rede NBC Stella Thompson, de 13 anos, que foi acordada pelo barulho dos helicópteros na manhã de sexta-feira. A jovem escapou ilesa porque sua cabana ficava em um terreno alto, mas outras colegas, como Renee Smajastrla, de 8 anos, não tiveram a mesma sorte. "Encontraram a Renee e, embora não tenha sido o resultado que esperávamos, a divulgação nas redes sociais provavelmente ajudou os serviços de emergência a identificá-la rapidamente", escreveu seu tio, Shawn Salta, no Facebook. "Somos gratos por ela estar com as amigas e se divertindo muito, como evidenciado por esta foto de ontem", acrescentou. Entre as outras vítimas identificadas, estão as irmãs Blair e Brooke Harber, de 13 e 11 anos, respectivamente. O pai das meninas, RJ Harber, confirmou a morte das filhas à rede CNN, descrevendo Blair como "uma aluna talentosa com um coração generoso". Já Brooke, segundo ele, "era como uma luz em qualquer ambiente; as pessoas eram atraídas por ela, e ela as fazia rir e aproveitar o momento". O diretor do acampamento, Richard "Dick" Eastland, também está entre os mortos, enquanto um monitor continua desaparecido. Fora do acampamento, outras tragédias foram registradas, como a de Julian Ryan, um jovem de 27 anos, que perdeu a vida ajudando sua família a se salvar. Ryan quebrou a janela do trailer onde morava com a namorada, os filhos e a mãe, perto do condado de Texas Hill, para que pudessem escapar da enchente do rio. No entanto, ao fazer isso, ele se cortou e sangrou até a morte antes da chegada do socorro, informou a imprensa local. "Ele morreu como um herói, e isso nunca vai ser esquecido", disse Connie Salas, irmã de Ryan, a uma emissora local. O número de pessoas desaparecidas e o fato de que as chuvas não cessam, levantam temores de que o número de mortos continue a aumentar. *Com informações de Gary O'Donoghue, Rachel Hagan e Ana Faguy Voltar ao início.

FONTE: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/07/08/por-que-as-enchentes-no-texas-que-mataram-mais-de-100-foram-tao-letais.ghtml


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